III – Em memória de David de Souza (1)
A Figueira da Foz vai festejar o I Centenário do nascimento de David de Souza, que a 6 de Maio de 1880 nela se abriu para a vida, vida breve que também aqui tristemente se lhe acabou a 3 de Outubro de 1918.
No começo, de certo modo lhe sorriu a sorte: a vida familiar cedo se deslocou para Lisboa, possibilitando a David de Souza o florescer para a música, iniciando-se nessa arte aos 9 anos de idade. Concluídos os estudos no Real Conservatório com 23-24anos, parte então para a Alemanha (Leipzig), onde até 1908 se aperfeiçoa na sua arte com uma bolsa do Estado Português. Entretanto, e ainda depois, viaja pela Áustria, Inglaterra e Rússia, dando a conhecer a sua arte de violoncelista, de regente de orquestra e de compositor.
Porém, a partir dos 32-33 anos, é em Portugal que procura realizar-se. Em Lisboa, entre 1913 e 1918, ficaram famosos os seus concertos no Teatro Politeama. Famosos, não tanto pela polémica que suscitaram – havia concertos também no Teatro de S. Luiz, sob a batuta de Pedro Blanch – mas principalmente porque, através deles e pela primeira vez se ouviram em Portugal, obras famosas de compositores de todo o mundo de expressão europeia, desconhecidas à época nesta “pequena casa lusitana”.
Lembre-se que David de Souza organizou muitos concertos “monográficos”, de épocas, de países, de autores. Foi o caso dos festivais consagrados a compositores e composições dos séculos XVII, XVIII e XIX; ou a compositores das Nações Aliadas na Grande Guerra; ou dos festivais de música eslava ou francesa, assim como aqueles que dedicou a Beethoven ou Wagner.
Lembrem-se igualmente, primeiras audições de obras de compositores alemães, além dos já referidos, como J. S. Bach, Brahms, Haendel, Mayerbeer e Schumann; de franceses, como Berlioz, Chabrier, Debussy, Dukas, Lalo, Massenet e Saint-Saens; de russos, como Balakirev, Glazounov, Mussorgsky, Rachmaninov, Rimski-Korsakov, Skriabine e Tchaikovsky; e do belga César Franck, do norueguês Grieg, do polaco Paderewski, do checo Smetana ou do finlandês Sibelius.
Em abono da verdade, diga-se entretanto que David de Souza jamais deixou de homenagear também autores portugueses, escritores, executantes ou compositores.
Assim, por exemplo, apresentou música inspirada em Camões, Antero de Quental, António Nobre, Guerra Junqueiro, Henrique Lopes de Mendonça e do figueirense João de Barros.
Igualmente os executantes portugueses mereceram de David de Souza, ele próprio executante, a melhor atenção. E assim foi que, desde Dezembro de 1913 a Março do ano imediato, em menos de 3 meses portanto, fez a “sua” Orquestra Sinfónica passar de 75 para 90 figuras. Também, a 30 de Abril de 1916, deu um concerto em favor do cofre de subsídios da secção musical do Conservatório de Lisboa. Do mesmo modo, em Fevereiro de 1917 regeu na festa artística da sua própria Orquestra e a 18 do mês imediato, fez a festa de homenagem ao seu primeiro violino, Luiz Barbosa (2).
Por outro lado, frequentemente incluiu composições portuguesas nos concertos que deu, ajudando assim a exaltar personalidades como as de Azevedo e Silva, Luís Pinto, Venceslau Pinto, Flaviano Rodrigues, Luís de Freitas Branco e Ruy Coelho. Enfim, pela primeira vez fez ouvir entre nós um considerável número de partituras nacionais inéditas: como a “Marcha Camões” e o “Poema Sinfónico” do célebre portuense e político João Arroyo; as “Páginas Dispersas” de Joaquim Fão, regente de bandas militares e depois continuador de David de Souza no Politeama; as “Miniaturas” do alfacinha Augusto Machado; a “Efémera”, do médico olhanense José Maria de Pádua, fundador da primeira Tuna Académica de Lisboa; o poema sinfónico “Idílio Rústico”, composto sobre o conto de Trindade Coelho por José Gomes Ferreira de 17 anos, então repartido entre os estudos, os versos e a música; uma “Rêverie”, um “Scherzo” e uma “Serenata” de João Passos; ou os “Cantos do meu país” e as “Impressões musicais” de Tomaz de Lima, seu amigo, ambos professores do Conservatório.
A repousar de um ano de trabalho árduo e com o pensamento posto na época de concertos que se avizinhava, aqui perto, na Rua do Viso, passa David de Souza parte de Setembro de 1918. Quem então diria que o fim lhe estava tão próximo?
Vítima da gripe pneumónica, David Ascensão de Figueiredo e Souza, promissor violoncelista, esperançoso compositor e sobretudo maestro já em clara afirmação, no começo desse Outono sinistro, com apenas 38 anos de idade, morre na terra que fora também o seu berço.
Poderia dizer-se que da arte e pela arte viverá só o tempo da 1ª guerra mundial, que indirectamente o vitimava também.
A Figueira da Foz vai festejar o I Centenário do nascimento de David de Souza, que a 6 de Maio de 1880 nela se abriu para a vida, vida breve que também aqui tristemente se lhe acabou a 3 de Outubro de 1918.
No começo, de certo modo lhe sorriu a sorte: a vida familiar cedo se deslocou para Lisboa, possibilitando a David de Souza o florescer para a música, iniciando-se nessa arte aos 9 anos de idade. Concluídos os estudos no Real Conservatório com 23-24anos, parte então para a Alemanha (Leipzig), onde até 1908 se aperfeiçoa na sua arte com uma bolsa do Estado Português. Entretanto, e ainda depois, viaja pela Áustria, Inglaterra e Rússia, dando a conhecer a sua arte de violoncelista, de regente de orquestra e de compositor.
Porém, a partir dos 32-33 anos, é em Portugal que procura realizar-se. Em Lisboa, entre 1913 e 1918, ficaram famosos os seus concertos no Teatro Politeama. Famosos, não tanto pela polémica que suscitaram – havia concertos também no Teatro de S. Luiz, sob a batuta de Pedro Blanch – mas principalmente porque, através deles e pela primeira vez se ouviram em Portugal, obras famosas de compositores de todo o mundo de expressão europeia, desconhecidas à época nesta “pequena casa lusitana”.
Lembre-se que David de Souza organizou muitos concertos “monográficos”, de épocas, de países, de autores. Foi o caso dos festivais consagrados a compositores e composições dos séculos XVII, XVIII e XIX; ou a compositores das Nações Aliadas na Grande Guerra; ou dos festivais de música eslava ou francesa, assim como aqueles que dedicou a Beethoven ou Wagner.
Lembrem-se igualmente, primeiras audições de obras de compositores alemães, além dos já referidos, como J. S. Bach, Brahms, Haendel, Mayerbeer e Schumann; de franceses, como Berlioz, Chabrier, Debussy, Dukas, Lalo, Massenet e Saint-Saens; de russos, como Balakirev, Glazounov, Mussorgsky, Rachmaninov, Rimski-Korsakov, Skriabine e Tchaikovsky; e do belga César Franck, do norueguês Grieg, do polaco Paderewski, do checo Smetana ou do finlandês Sibelius.
Em abono da verdade, diga-se entretanto que David de Souza jamais deixou de homenagear também autores portugueses, escritores, executantes ou compositores.
Assim, por exemplo, apresentou música inspirada em Camões, Antero de Quental, António Nobre, Guerra Junqueiro, Henrique Lopes de Mendonça e do figueirense João de Barros.
Igualmente os executantes portugueses mereceram de David de Souza, ele próprio executante, a melhor atenção. E assim foi que, desde Dezembro de 1913 a Março do ano imediato, em menos de 3 meses portanto, fez a “sua” Orquestra Sinfónica passar de 75 para 90 figuras. Também, a 30 de Abril de 1916, deu um concerto em favor do cofre de subsídios da secção musical do Conservatório de Lisboa. Do mesmo modo, em Fevereiro de 1917 regeu na festa artística da sua própria Orquestra e a 18 do mês imediato, fez a festa de homenagem ao seu primeiro violino, Luiz Barbosa (2).
Por outro lado, frequentemente incluiu composições portuguesas nos concertos que deu, ajudando assim a exaltar personalidades como as de Azevedo e Silva, Luís Pinto, Venceslau Pinto, Flaviano Rodrigues, Luís de Freitas Branco e Ruy Coelho. Enfim, pela primeira vez fez ouvir entre nós um considerável número de partituras nacionais inéditas: como a “Marcha Camões” e o “Poema Sinfónico” do célebre portuense e político João Arroyo; as “Páginas Dispersas” de Joaquim Fão, regente de bandas militares e depois continuador de David de Souza no Politeama; as “Miniaturas” do alfacinha Augusto Machado; a “Efémera”, do médico olhanense José Maria de Pádua, fundador da primeira Tuna Académica de Lisboa; o poema sinfónico “Idílio Rústico”, composto sobre o conto de Trindade Coelho por José Gomes Ferreira de 17 anos, então repartido entre os estudos, os versos e a música; uma “Rêverie”, um “Scherzo” e uma “Serenata” de João Passos; ou os “Cantos do meu país” e as “Impressões musicais” de Tomaz de Lima, seu amigo, ambos professores do Conservatório.
A repousar de um ano de trabalho árduo e com o pensamento posto na época de concertos que se avizinhava, aqui perto, na Rua do Viso, passa David de Souza parte de Setembro de 1918. Quem então diria que o fim lhe estava tão próximo?
Vítima da gripe pneumónica, David Ascensão de Figueiredo e Souza, promissor violoncelista, esperançoso compositor e sobretudo maestro já em clara afirmação, no começo desse Outono sinistro, com apenas 38 anos de idade, morre na terra que fora também o seu berço.
Poderia dizer-se que da arte e pela arte viverá só o tempo da 1ª guerra mundial, que indirectamente o vitimava também.
(1) Parte do texto presente, agora corrigido, serviu de abertura ao Catálogo da Exposição de homenagem a David de Souza, inaugurada na Biblioteca Municipal a 6 de Maio de 1980.
(2) Pai do violinista Vasco Barbosa e da pianista Grazy Barbosa.
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